Ao longo desses dias, o Portal das CEBs quer destacar as celebrações pelos 50 anos de Medellín – Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino Americano foi realizada na cidade de Medellín, na Colômbia, de 24 de agosto a 06 de setembro de 1968.
A seguir um texto escrito por Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales. Ele destaca pontos importantes que devem ser destacados, sobretudo nesses tempos do Papa Francisco.
Segue o texto!
Completam-se, portanto, 50 anos de sua realização. A celebração do seu cinquentenário é uma boa oportunidade para resgatar a memória deste acontecimento, que se tornou emblemático como referência do esforço para colocar em prática, de modo criativo o Concílio Vaticano Segundo.
A própria data da realização da Conferência de Medellín, no ano de 1968, coloca este evento no contexto histórico do Concílio, que tinha suscitado na Igreja um amplo processo de renovação, que necessitava ser bem articulado e bem conduzido.
O Concílio tinha se realizado de 1962 a 1965. Já antes que ele terminasse, foi amadurecendo a idéia de que era preciso aplicar suas grandes intuições de maneira adequada à situação da Igreja em cada continente.
Quem logo abraçou esta idéia foram os bispos latino americanos. É importante assinalar que a Igreja da América Latina era a única que já possuía uma incipiente articulação continental, através do CELAM – Conselho Episcopal Latino Americano. Isto facilitou as tratativas iniciais visando a realização de uma “conferência episcopal”, com a finalidade ampla de acolher o Concílio e realizar suas propostas de renovação eclesial no contexto da realidade própria do continente latino americano.
Esta iniciativa contou logo com o incentivo do Papa Paulo VI, fato que contribuiu muito para legitimar os seus amplos propósitos.
Outra constatação importante para se entender Medellín, era a situação muito tensa, vivida pela maioria dos países latino americanos, muitos deles enfrentando regimes de exceção, sob o peso de ditaduras militares, e com a pressão da pobreza em que se encontrava grande parte da população.
Neste contexto se compreende melhor o que significou a Conferência de Medellín.
A preocupação em integrar as orientações pastorais do Concílio com a realidade própria dos países da América Latina, levou a Conferência de Medellín a adotar o método que acabou sendo uma de suas características principais: VER, JULGAR E AGIR. Este método era uma das preciosas heranças da Ação Católica, em especial da JOC, Juventude Operária Católica.
O desafio de entender a realidade, para se agir adequadamente diante dela, suscitou a consciência da importância da reflexão teológica. A caminhada da Igreja precisa ser acompanhada de adequada compreensão da realidade. Daí nasceu a “teologia da libertação”, em sintonia com a busca concreta de libertação que permeava o empenho de tirar da miséria e promover as populações pobres do continente. Com isto fica situada a “opção pelos pobres”, que a partir de Medellín passou a ser uma característica marcante da Igreja latino-americana.
E assim dava para ir entendendo melhor outras marcas da caminhada pastoral, como as comunidades eclesiais de base, a leitura popular da Bíblia, a valorização dos leigos, o planejamento pastoral, a inserção das comunidades religiosas nas periferias, as pastorais sociais, a proximidade da hierarquia com o povo.
Estes breves acenos sobre a Conferência de Medellín não são para deixar o assunto esgotado. Ao contrário, se destinam a nos motivar para resgatar a memória das grandes opções pastorais, e ter presente as resistências que elas encontraram, ou que ainda encontram em nossos dias. Pois Medellín continua sendo um marco referencial para avaliarmos a caminhada da Igreja na América Latina.
Esse texto foi publicado no site da CNBB no dia 26 de abril de 2018. https://www.cnbb.org.br/50-anos-de-medellin/